Falando demais

Eu tentei definir teus olhos por olhos de Capitu, mas não achei lhe conveniente e nem apropriado dizer que tens:

"Olhos de cigana oblíqua e dissimulada."

"Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas.

Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me."

Dom Casmurro - Machado de Assis 

Sabe o que eu pensei a noite inteira, eu não posso procurar você em outros olhos, e nem tais olhos definem-se como os teus, mas daí eu caí na real e expulso você de meu coração e de meus desejos.

Você não é como ela e nem há de ser.

Fitei sua foto por mais alguns instantes e cheguei a conclusão que não terei teus olhos e senti vontade de sair de dentro do meu corpo. Talvez eu esteja caindo na real, e vendo que não é bem assim que me sinto, apenas uma ansiedade insana de me permitir e cortejar teus olhos, sua docilidade, a meninice que brinca em tua face e um sorriso cor de pitanga.

Teus olhos me olham mas não veem à mim como meu desejo enfurecedor de ir até ti.

Depois de Capitu tentei procurar definições mais claras e objetivas, mas você é um embaraço, um furacão, fez-se um turbilhão de pensamentos reinados por pontos de interrogações novamente, corri o mais rápido que pude mas me esbarrei a seguir em uma singela vírgula, aspas, umas palavras corroídas e lá uns três pontinhos para ao deleite de pensamentos, "E se..."

E se acontecesse, e se ela pensasse como eu, e se ela tentasse... estou a dias procurando definições.

As vezes ela um tanto aérea, quase que uma cabeça nas nuvens, ou talvez eu seja de tal coração puro de palavras que ela desconheça, e me sinto bobo por dizer coisas tão relevantes e ela não intender, mas sei lá a vida tem lá dessas coisas.

Eu queria que você tivesse palavras lindas e elaboradas com as mais finas definições, que você notasse meu tato com as palavras, mas é como dizer ao um quadro na parede "Que belíssimo" e ele continuar pendurado e sem expressão.

Vou dizer o que teu olhar provoca em mim, insanidade. 

Olhos que despertam sentimentos inversos, e respostas não claras apunhalando-se em todos os segundos por palavras de duplo sentido, e olhar nos teus olhos e não entender mais nada que sai de sua boca e seu sorriso, é perder-se num mar e não querer saber voltar nunca mais, é ser puchado pela correnteza de seus cílios me abraçando e levando ao fundo do mar na cor dos teus olhos.

E por fim uma frase um tanto colérica.

"Não se confia em alguém quando não se confia em seus olhos."